150 anos da desencarnação de Allan Kardec

Há 150 anos, no dia 31 de Março de 1869, desencarnou Allan Kardec, vítima de um aneurisma, em pleno trabalho no Passage

Sainte Anne em Paris, preparando a mudança da Livraria para o 7 rue de Lille em Paris, e seu retiro, junto com a esposa Amélie, para a Villa Ségur, na “campanha” de Paris naquela época.

A Espiritualidade determinou que o retiro dele seria para o mundo espiritual… A missão estava cumprida, e bem cumprida, com a codificação da doutrina espírita, que tem hoje dezenas de milhões de seguidores pelo mundo.

Inaugurou a era da fé raciocinada, consolidou o espiritualismo racional na base fatual dos fenômenos da mediunidade que ele observou com rigor e método. Enfrentou todas as resistências e oposições, por parte do mundo científico e do mundo religioso. Não caiu em nenhuma das múltiplas armadilhas que teve de enfrentar: influencias de espíritos inimigos do bem, amigos desajeitados, imprudentes, ou que caíram na venalidade ou no personalismo. Deixou um exemplo inolvidável para seus seguidores.

Infelizmente, entre esses seguidores, poucos foram fieis à base que ele deixou, entre eles, Léon Denis e Gabriel Delanne. Muitos outros se transviaram.

 

Hypolite Léon Denizard Rivail nasceu há 165 anos, no dia 3 de Outubro de 1804, na cidade de Lyon, quando os pais moravam em Bourg-em-Bresse. Hypolite foi o único que sobreviveu dos 4 filhos do casal Jeanne Louise e Jean-Baptiste Antoine Rivail, que casaram em 1793, no período muito conturbado pouco depois da Revolução Francesa. No mesmo ano, Jean-Baptiste foi preso pelos revolucionários, junto com o sogro Benoît Marie Duhamel: esse último foi guilhotinado em Lyon, mas Jean-Baptiste foi solto no ano seguinte, quando o jovem casal foi morar na cidade de Belley, base do exército dos Alpes, dirigido pelo General Napoleão, onde Jean-Baptiste era juiz militar. Napoleão foi coroado imperador em 1804, poucos meses antes do nascimento de Hypolite: isso explica porque Jean-Baptiste estava em Paris naquele ano.

Segundo dois documentos de fonte judiciária, Jean-Baptiste “desapareceu sem notícias” por volta de 1807, “provavelmente morto na Espanha”, durante a guerra da Espanha. Na realidade, Jean-Baptiste, que se tornou advogado, desencarnou pobre, em 1834, na cidade de Périgueux: ele provavelmente abandonou a família por um motivo que ainda precisa averiguar.

Aos 3 anos, Hypolite ficou “órfão” do pai, e cresceu na pequena cidade de Saint-Denis-les-Bourg, na fazenda de sua avo materna Charlotte Bochard, junto com a mãe, Jeanne Louise Duhamel e o tio François Duhamel. Conseguiram levá-lo para estudar na Suíça, em Yverdon, no instituto do famoso pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi, onde o jovem Hypolite viveu junto com amigos provindo de vários países da Europa, de várias línguas e várias religiões. Ele beneficiou-se da pedagogia que encoraja os alunos a observarem os fenômenos da natureza e deduzir eles mesmos as leis que os governam. Essa fase foi fundamental para preparar o jovem Hypolite para a tarefa que ele ia cumprir mais tarde. Ainda temos poucos elementos históricos sobre esse período, que necessita maiores pesquisas na Suíça.

Aos 18 anos, em 1823, Hypolite já morava em Paris com a mãe e o tio, e estava escrevendo seu primeiro livro pedagógico: Tratado de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, que foi publicado no final do mesmo ano. Foi o primeiro de uma longa série de livros pedagógicos: Rivail ficou conhecido e participou de várias sociedades científicas na época, e chegou a redigir um relatório para o Governo Francês para a melhoria da educação pública que foi muito comentado na imprensa. Ele abriu uma escola do primeiro grau em 1825 na rue de Vaugirard, que se transformou no liceu polimatico em 1831 no 35 rue de Sèvres.

Ele casou com Amélie Boudet em 9 de Fevereiro de 1832, enquanto estava de licença do serviço militar, obrigatório na época. Amélie ia se tornar a companheira fiel acompanhando Hypolite em todas as fases da vida, inclusive as mais difíceis. Em 1840, Hypolite teve que vender o Liceu para um Sr Pitolet, provavelmente por causa de dificuldades financeiras, seu tio e associado tendo perdido muito dinheiro em jogos. Essa década foi difícil para o casal, lutando para conseguir uma atividade estável permitindo o sustento do lar. Sabemos também que nessa época, Hypolite e Amélie educaram uma filha, chamada Louise, que não podiam adotar legalmente de acordo com as lei da época. Louise desencarnou jovem, por volta dos 7 anos, em dezembro de 1845. De 1844 a 1850, Hypolite e Amélie dirigiam, na rue Mauconseil, um pensionato para meninas, que tinham pouco acesso à educação naquele tempo.

Mas no segundo Império, que começou em 1848, foi promulgada em 1850 a lei Falloux, que dava amplo acesso à educação religiosa, e os estabelecimentos laicos como o de Rivail tiveram que fechar. Foi outro período difícil para o casal, que vivia da renda dos livros pedagógicos e de aulas particulares, e também de serviços de Hypolite na área contábil de teatros. Rivail chegou até a depositar um brevê para um sifão móvel, evitando os maus cheiros que subiam dos esgotos construídos em Paris naquele tempo. Moravam então num pequeno apartamento na rue des Martyrs, junto com o tio François Duhamel, que desencarnou aos 80 anos em 1855 naquele endereço. Foi no mesmo ano que Hypolite começou a observar os fenômenos espíritas, como consta nas Obras Postumas.

 

Fica claro que todos esses acontecimentos na vida de H. L. D. Rivail contribuíram para prepará-lo nessa vida para a missão grandiosa que ele ia cumprir a seguir: abertura cultural e religiosa em Yverdon, pedagogia em Paris, resiliência e persistência diante das dificuldades materiais e perda de entes queridos.

 

Fora da caridade, não há salvação!

 

 

Charles Kempf, francês, 59 anos, casado, 1 filho.
Engenheiro formado na École Nationale Supérieure des Mines de Paris. Trabalha
em uma empresa na área da energia.
Primeiro contato com o Espiritismo em 1986.
Trabalhador no Movimento Espírita Francês desde 1991, e Internacional desde
1994.
Dirige o Centre d’Études Spirites Léon Denis, em Thann, France, desde a sua
fundação em 1997.
Membro do comité de organização do 4° Congresso Espírita Mundial em Paris,
2004.
Membro da Comissão Executiva do Conselho Espírita Internacional de 2004 a 2016.
Secretário Geral do Conselho Espírita Internacional de 2012 a 2016, e responsável
da Coordenadoria da Europa do Conselho Espírita Internacional de 2007 a 2018.
Membro do Movimento Espírita Francófono desde 2014
Membro do Comité de Redação da Revue Spirite.
Membro do Grupo de Trabalho da Enciclopédia Espírita www.spiritisme.net
Presidente da Federação Espirita Francesa.
Pesquisador sobre a história do Espiritismo e sobre Allan Kardec.